Um levantamento do Ipea revela que 69,9% dos trabalhadores em serviços domésticos e de cuidados remunerados no Brasil são mulheres negras. Mesmo sendo maioria nesse setor essencial para o funcionamento da sociedade, elas seguem como as mais afetadas pela informalidade, pela desigualdade salarial e pelo desemprego. Os números, reforçados por dados do governo federal, do Instituto Locomotiva, do IBGE e de iniciativas como o projeto Mude com Elas, escancaram uma realidade marcada por recortes de classe, raça e gênero que aprofundam a exclusão social no país.
As mulheres negras representam 41% de toda a força de trabalho informal no Brasil, sendo o grupo mais exposto à precarização. Entre as jovens negras de 14 a 29 anos, a situação é ainda mais alarmante: mais de 40% das que trabalham estão em postos informais, sem proteção previdenciária, direitos trabalhistas ou qualquer estabilidade mínima. Já a taxa de desemprego nessa faixa etária chega a 16%, mais do que o triplo da registrada entre jovens homens brancos. Quando conseguem uma vaga, a remuneração média mensal das mulheres negras gira em torno de R$ 2.864,39, o que representa uma diferença de mais de 39% em relação aos homens não negros. Além disso, muitas realizam jornadas duplas ou triplas, dedicando até 10 horas semanais a mais do que os homens às tarefas de cuidado não remunerado.
Esses números ilustram uma desigualdade num sistema estruturado para manter mulheres negras em postos precários, invisibilizados e sem valorização profissional. Mesmo em ambientes formais, como o serviço público, a sub-representação permanece. Segundo o relatório RASEAM 2025, apenas 6,7% dos cargos de alta confiança no governo federal são ocupados por pessoas negras, sendo que negras representam uma fatia ainda menor.
Frente a essa realidade, políticas públicas têm buscado corrigir parte dessas distorções históricas. O governo federal lançou programas como o Aquilomba Brasil, com metas para ampliar a participação de pessoas negras nos cargos de chefia, e intensificou a fiscalização da lei de igualdade salarial entre mulheres e homens. Universidades, como a UFSC, também têm contribuído com estudos que mostram como o empreendedorismo negro, especialmente por meio do MEI, ainda é marcado por baixos rendimentos e ausência de proteção previdenciária.
“É nesse cenário que ganha ainda mais força o Plebiscito Popular 2025, em curso até 7 de setembro, que convida a população a votar sobre duas pautas essenciais: o fim da escala 6×1 e a redução da jornada de trabalho sem corte de salário, e a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, com taxação dos super-ricos. Essas propostas dialogam diretamente com as necessidades das mulheres negras trabalhadoras, que são maioria nas ocupações com jornadas exaustivas, salários baixos e ausência de direitos”, comentou a presidenta do Sindsep, Izaltina Gonzaga.